domingo, 3 de novembro de 2013

Congresso Literário Fliporto 2013

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PROGRAMAÇÃO DO CONGRESSO LITERÁRIO
pontoazul Dia 14 de novembro
19h  
Abrindo o jogo:
Pilar del Río fala sobre José Saramago: “Escrever não me dá prazer, ter escrito, sim.
Apresentação de Rui Couceiro
Apesar da rima perfeita – escrever e prazer – para alguns a satisfação está muito mais na obra feita, e não propriamente no processo de elaboração. José Saramago era um deles. Ninguém melhor para falar disso do que sua mulher, Pilar del Río, que tanto o ama e traduz. Se, como afirmou Maiakovski, “a poesia é uma indústria, das mais complicadas, das mais difíceis, mesmo assim uma indústria”, não foi muito diferente, em prosa e verso, com o Nobel de Literatura português, e nós saberemos a razão.
pontoazulDia 15 de novembro
10h30  
Juca Kfouri, Marcelo Backes e Francisco José Viegas, com mediação de Samarone Lima
Por que o futebol brasileiro é ainda mais rico do que a literatura (a seu respeito)
Não faz muito tempo, os bons contos, poemas e narrativas de diversos tipos em torno do futebol primavam pela escassez. O mais popular esporte no Brasil dava seus melhores frutos na crônica. E para muitos continua a ser esse ainda o gênero que consegue traduzir melhor o que acontece dentro e fora das quatro linhas do gramado. Seria mesmo assim? Em debate, um dos mais conhecidos e importantes críticos do esporte (especialmente o futebol), Juca Kfouri, um romancista brasileiro cujo mais novo livro tem o futebol incorporado à sua história (Backes: O último minuto), e um escritor português (Viegas), que também glosou o futebol em sua obra, dá a visão do que ocorre em terras lusitanas (Morte no estádio é um exemplo). Alinhavando a conversa, o jornalista e poeta Samarone Lima, torcedor fanático do Santa Cruz Futebol Clube que, com Inácio França, acaba de lançar um livro inteiro sobre sua paixão: A raça é negra, volume I daTrilogia das Cores.
14h  
Robert Löhr, Ignacio del Valle e Ioram Melcer, com mediação de Cristhiano Aguiar
Literatura: qual é o jogo?  De Júlio Cortázar ao jogo de xadrez e do romance policial ao que vier na memória.
O Jogo da Amarelinha (Rayuela) é quase por antonomásia o exemplo que vem à mente quando se fala de jogo e literatura. Especialmente nos cinquenta anos do lançamento desse livro e às vésperas do centenário de nascimento do seu autor. Tal é a riqueza da obra do argentino que despertou interesse e leitores até nos mais variados países. Um exemplo notável é a tradução publicada neste ano em Israel, que foi lá considerada o acontecimento cultural do ano. Seu tradutor, Ioram Melcer, enfrentou também os desafios de outros relatos do grande narrador:  Octaedro e Final del Juego, e dirá como é possível ganhar esse jogo de fazer falar em hebraico o ludismo castelhano. Neste painel, um escritor espanhol, Ignacio del Valle, consciente das permutações e possibilidades que envolvem o leitor num jogo de gato e rato, o da literatura policial (ou novela negra, como lá se diz), traduzirá essas artimanhas para o público. No infinito tema do jogo e da literatura, são abundantes as pistas falsas, os blefes, as farsas, em intermináveis probabilidades. Porque o jogo de enganos também se insinua de modo quase irresistível no mundo do crime, e da fantasia humana. Um extraordinário exemplo disso é um livro muito sedutor que encanta e prende cada leitor: A máquina de xadrez, do alemão Robert Löhr, que também lançou no Brasil A manobra do rei dos elfos. Três dos grandes intérpretes do jogo na literatura, na atualidade, contarão sobre sua experiência particular, mas um pouco também das alheias.
16h  
Cartas na mesa: José Lins do Rego – muito além do Regionalismo e do Romance de 30
Luciano Trigo, Bernardo Buarque de Hollanda e Ivan Marques, com mediação de Zuleide Duarte
“São notáveis os dotes de romancista do Sr. José Lins do Rego. O livro Doidinho, em que narra as aventuras colegiais de um pequenino roceiro, convencerá de que é assim a quem quer que o leia com atenção.” A resenha, no jornal O Estado de S. Paulo, publicada há 80 anos, continua válida hoje. Não por causa de um romance apenas, mas de toda sua obra. A ensaística, inclusive. A da crônica esportiva, por exemplo. José Lins é realmente um dos exemplos mais altos de autor que vale a pena ser “lido com atenção”.  Para que a riqueza de sua prosa e de sua cosmovisão encontrem nas novas gerações tantos ou mais admiradores do que os seus contemporâneos. O painel provoca essa discussão e propõe como lê-lo além dos estereótipos e convencionalismos, dos tipos e paisagens de um só tempo e um só lugar, uma escola, um estilo. Há vida para o escritor além das classificações ordinárias?
17h45   
Laurentino Gomes
Conferência: “O jogo do poder na República”
No dia 14 de setembro de 1889, um jornalista, que entrevistou o marechal Deodoro da Fonseca, o descreveu como “um homem de sessenta anos, alto, muito moreno, com a barba grisalha. Tem fisionomia inteligente e os olhos, muito pretos, são vivíssimos.” Ao indagar de uma missão no Mato Grosso, Deodoro responde: “Se tivesse de ir ao céu, São Pedro servir-me-ia de vaqueano, se tivesse de ir ao inferno, pediria a qualquer político que me guiasse.” E acrescenta: “Não tenho aspirações. Com dois ou três anos de vida, terei chegado ao mais alto posto do Exército, e cantarei no Império como galo de torre. Hoje, só aceitarei comissões bélicas.” Menos de dois meses depois, cantou de galo, derrubando o imperador, seu amigo. Como lembra Gilberto Freyre, em Ordem e Progresso, um inglês tentou explicar ao outro o que ocorrera, e classificou a proclamação da República do Brasil como “uma revolução muito sem classe: não houvera uma única morte para lhe dar dignidade ou sequer respeitabilidade”.  Que há um jogo na busca por conquistar o poder, mesmo o mais inocente dos observadores não duvida. No caso da transição da Monarquia para a República no Brasil isso se verificou do modo mais irônico e pitoresco. Esses e outros aspectos ainda mais ricos serão comentados pelo jornalista Laurentino Gomes, que acaba de lançar um livro inteiro sobre a República – 1889, fechando a trilogia iniciada com 1808 e continuada com 1822.
19h30
Jogos poéticos e musicais
Recital de Rita Gullo e Manuel Lorente, com palestra de José Antonio González Alcantud, e participação dos músicos Manuel Parrilla e Edson Alves
“Fala cantado”. É comum o uso dessa expressão no Brasil, especialmente para os que são do Nordeste. Mas, na verdade, são tantos falares e cantares que não estranha a existência de tanta música meio falada meio cantada no país. Claro que isso não é um particularismo brasileiro. Na matriz ibérica há variados e ricos exemplos. O andaluz talvez seja o mais luminoso deles. Neste painel muito especial, o canto falado e os aspectos lúdicos da poesia e da música podem ser fruídos tanto na teoria (uma conferência) quanto na prática (uma cantora de São Paulo e um cantor de Granada), em jogo poético e musical, dialogante, da Espanha com o Brasil. Emoldurando tudo uma homenagem a Vinicius de Moraes, quem porventura melhor sintetizou isso, vivendo os dois reinos da poesia erudita e da música popular. E com muita sensualidade. Sensualidade que é, aliás, tão da carne e da alma do flamenco, ou, diria um Kierkegaard, da genialidade característica, definitiva e definidora da própria música.
pontoazulDia 16 de novembro
14h   
Ana Maria Machado e Ronaldo Correia de Brito, com mediação de Mona Dorf.
O jogo aqui principia: escrever é retornar à infância?
Se o gênio nada mais é que a infância recuperada de modo deliberado, como queria Baudelaire, o que dizer da literatura? Um dos lugares-comuns literários dá conta de que a pátria do escritor é na infância. Mas, além dos clichês, a metáfora – e para outros, a metonímia – da infância é soberana. O jogo, a brincadeira, o faz-de-conta de um romancista se assemelha de algum modo às fantasias e imaginações de um menino? Seja como memória ou como experiência lúdica, que pontos em comum há entre essas três dimensões do sonho e da invenção humana: o jogo, a infância, a literatura?
15h30
Jogos da memória: José Lins do Rego na intimidade
Maria Christina Lins do Rego Veras, Valéria Lins do Rego Veras e Pedro Figueiredo Veras, com mediação de Maurício Melo Jr.
Ledo Ivo, num ensaio já antigo – publicado três meses após a morte de JLR, em 1957 – disse: “Ao iniciar sua vida literária, no espaço de tempo que vai desde a época estudantil no Recife de 1920 até 1929, ano em que integrado em sua ‘fase alagoana’, escreve Menino de Engenho, com o simples propósito de elaborar apenas um livro de memórias da infância, José Lins do Rego não pensava em tornar-se um romancista.” Mas que memória tem sua família daquele que foi por excelência o escritor da memória? Sendo o Brasil sempre recorrentemente citado como país sem memória, como sobrevive o grande escritor nas recordações dos seus? E como as novos leitores de hoje podem tomá-lo como o autor do presente, não do passado? Essas e muitas respostas, nos depoimentos de três gerações dos Lins do Rego: uma filha, uma neta, um bisneto.
17h15  
Consumir, protestar, espionar e outros temas incômodos, no jogo da sociedade moderna em mudança constante.
O sociólogo Zygmunt Bauman (em entrevista exclusiva gravada em Leeds, na Inglaterra), comentado pelo economista Sergio Besserman Vianna, em conversa com o jornalista Silio Boccanera.
Num tempo em que distância e proximidade são relativas, uma “presença” cada vez mais frequente é a proporcionada pelos meios eletrônicos. Conversas por computador – com imagem e voz –, videoconferências e gravações são meios legítimos de trazer para perto e de dialogar com quem não se pode estar face a face. Assim é que o sociólogo da “modernidade líquida”, Zygmunt Bauman, que vive na Inglaterra, está presente em Olinda, na Fliporto. Uma entrevista exclusiva, gravada especialmente para “trazê-lo” – já que não realiza longas viagens – foi feita com ele, em sua casa, sobre os grandes temas do momento. Suas respostas e as questões que ele suscita serão comentadas, “ao vivo”, pelo economista Sergio Besserman Vianna, numa entrevista, que gera uma curioso diálogo multiplicado: com o entrevistador – o jornalista Silio Boccanera, Bauman e o público presente em Olinda.
19h
Francisco Azevedo e Maitê Proença, com mediação de Gerson Camarotti
O jogo da vida e do amor: as crônicas e as narrativas do que somos e sonhamos
O mais novo livro de Maitê Proença pode ser considerado como fruto de um jogo. Uma inteligente brincadeira na internet, em que a conhecida atriz e cronista foi reunindo uma série de crônicas de escritores e de não escritores, de gente famosa e de outra quase anônima, e sintetizou a experiência no livro É duro ser cabra na Etiópia. Na sua própria obra como autora, um tanto desse espírito livre, alegre e também grave está presente, como um permanente brinde à vida e ao amor. Não é muito diferente com o escritor Francisco Azevedo, um dos romancistas brasileiros mais importantes da atualidade, e autor de textos para teatro muito aplaudidos. Seu Doce Gabito e, por que não?, também o seu Arroz de Palma – traz o excelente ‘molho’ do lúdico, do humor e da sensibilidade inteligente, pois sem isso tudo não há boa literatura.
pontoazulDia 17 de novembro
14h  
Fernando Báez e Klester Cavalcanti, com mediação de Samarone Lima
Jogos de Guerra – duas conferências
Báez: “Censura, mentiras e poder: a verdade da espionagem dos Estados Unidos no século XXI”;
Cavalcanti: “Um Jornalista Brasileiro na Guerra da Síria”
Se o ano de 1991 foi aquele em que a guerra começou a ser confundida por excelência com o videogame, e se 2001, gestou-se uma nova era da suspeita (da qual jamais suspeitaria talvez uma Nathalie Sarraute), este de 2013 é aquele em que um Big Brother plasmado, não na ficção, mas realidade, mais comentários gerou. Paralelas a isso, de modo nenhum desligado de todos esses fios, estão as guerras, e de modo muito específico e terrífico, o conflito atual desenrolado na Síria. Como testemunha ocular das atrocidades que acontecem naquele país, um repórter brasileiro. Ele viveu na própria carne, no sentido mais literal possível, o inferno, e sobreviveu para contá-lo. Acostumado a denunciar o extermínio de livros, bibliotecas, documentos e monumentos das culturas, o escritor Fernando Báez escrutinou a espionagem estadunidense, com o rigor ético e estético que tanto o caracteriza, e escreveu um livro sobre isso. Ninguém melhor do que um cientista da informação e um repórter para dizerem o que há por trás das máscaras da guerra e da bisbilhotice em escala planetária.
15h45   
Andres Neuman, Luiz Ruffato e Andrea del Fuego, com mediação de Cristhiano Aguiar
Mais que um jogo de palavras: a importância do lúdico para um escritor
“Seja no mito ou na lírica, no drama ou na epopeia, nas lendas de um passado remoto ou num romance moderno, a finalidade do escritor, consciente ou inconsciente, é criar uma tensão que ‘encante’ o leitor e o mantenha enfeitiçado.” Isso é o que diz o holandês Johan Huizinga, no seu já clássico Homo Ludens. Mas, o que dizem os escritores? O jogo é tema de suas histórias e poemas? É lúdico o seu modo de escrever? Que estranha brincadeira é essa que fazem com as palavras? É também um tipo de jogo a relação do escritor com o leitor?
17h30
Sylvio Back e Miguel Gonçalves Mendes, com mediação de Marcelo Pérez
A cena do jogo, em texto e imagem: os escritores filmados
Os poetas não têm biografia? Sua obra é sua única biografia? No retrato que Miguel Gonçalves Mendes fez de Mário Cesariny tem-se a prova disso às avessas. Os poetas têm sua “autografia”, que é, aliás um dos poemas do grande surrealista português: “Sou um homem/ um poeta/ uma máquina de passar vidro colorido/ um copo/ uma pedra/ uma pedra/ configurada/ um avião que sobe levando-te nos seus braços/ que atravessam agora o último glaciar da terra.” Não é muito diverso o que faz Sylvio Back (cineasta-poeta, poeta-cineasta) com Cruz e Souza, no filme O Poeta do Desterro (aqui aproveitando-se, como um jogo de palavras, com o antigo nome da cidade natal do autor de Broquéis). Ambos, Sylvio e Miguel, ao filmarem um escritor, o firmam, fazem mais do que pô-lo em cena: dão-lhe uma vida na Vida, suscitam cada autor, à sua maneira, se está vivo, ressuscitam-no de um modo próprio se está morto: “Oh! que doce tristeza e que ternura/ No olhar ansioso, aflito dos que morrem.” O próximo longa-metragem de Miguel Gonçalves Mendes contará com o escritor valter hugo mãe como um dos principais protagonistas. Em pauta, a ambição de toda arte, uma busca: o Sentido da Vida.
19h30   
O jogo não tem fim
Valter Hugo Mãe, em conversa com Sidney Rocha
Que é lúdica a literatura do escritor português valter hugo mãe não haverá dúvida para nenhum dos seus leitores. Tão lúdica que o seu jogo começa já a partir da forma de grafar o próprio nome: todo em minúsculas, como também o preferia o poeta e. e. cummings. Seu gosto pela música e a poesia, a variedade e riqueza de sua produção levam esse jogo a instâncias as mais estimulantes. Até no lançamento do seu novo livro, em Portugal, A desumanização, o jogo esteve bem presente: sua editora lusitana, a Porto, fez artistas plásticos (Filipe Rodrigues, Isabel Lhano, Joana Rego e José Rodrigues) interpretarem a obra e produziu posters com o resultado. Foram quatro mil posters-poemas distribuídos. O próprio autor participou do jogo. Mais uma prova de que, no seu caso, o jogo é, com trocadilho, uma interminável partida.
Contato:
Coordenação Literária: Mario Helio Gomes
E-mail: mariohelio@gmail.com
Endereço: Praça do Carmo, Olinda, Pernambuco. 

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