Cinco
séculos de seca nós vivemos
Convivemos
com ela numa boa
Se
algum dia aparece uma garoa
Nós
rezamos, com a sorte que tivemos
Ao
bom Deus pela chuva agradecemos
Que o
melhor que fazemos é rezar
Junto
a nós todos vêm acompanhar
Seja
a mãe, seja o pai ou o menino
Já
pensou se com sede o sudestino,
Vem
aqui pro nordeste saciar!.
Quando
a seca ultrapassa sete anos
Vem
pra cá gente da televisão
Pra
falar nos jornais sobre o Sertão
Com
matérias e assuntos desumanos
Caricatam
a nós seres humanos
Mostram
então, uma imagem de chorar
Não
perguntam se a gente quer falar
Descrevendo
por fim nosso destino
Já
pensou se com sede o sudestino,
Vem
aqui pro nordeste saciar!.
Nossa
sede por tempos foi usada
Pra
prender-nos qual burros no curral
E a
mentira do ano eleitoral
Na
campanha era sempre utilizada
Emergência
era arma de fachada
Pra
fazer o matuto trabalhar
Era a
“Frente” uma máquina de humilhar
E até
subjugar o nordestino
Já
pensou se com sede o sudestino,
Vem
aqui pro nordeste saciar!.
Sudestino
e sulista só pensava
Que o
nosso QI não era igual
E
viramos sinônimo de animal
Porque
era o que a mídia divulgava
Quando
alguém, ao Nordeste visitava
Encantava-se
ao ver nosso lugar
Sem
saber dessa forma o que pensar
Conhecendo
esse povo tão divino
Já
pensou se com sede o sudestino,
Vem
aqui pro nordeste saciar!.
O
castigo que coube ao nosso povo
Por
centenas de anos perdurou
E o
sistema que sempre nos usou
Espremeu-nos
igual pinto no ovo
Quando
um ano era ruim, outro de novo
O
alento que alguém queria dar
Era
só prometer de melhorar
Continuando
o andar do peregrino
Já
pensou se com sede o sudestino,
Vem
aqui pro nordeste saciar!.
Foi
aqui no Nordeste que nasceu
O
país que chamamos de Brasil
Foi
daqui que expulsamos povo vil
Nossa
gente entre guerras já morreu
Esse
povo de sede pereceu
E
perece até hoje sem parar
Mas
consegue com a seca se ajeitar
Aprendendo
de um jeito paulatino
Já
pensou se com sede o sudestino,
Vem
aqui pro nordeste saciar!.
Melancias,
melões e laranjeiras
Limoeiros,
também canaviais
Cacaoeiro,
parreiras, bananais
Cajueiros,
pitangas e mangueiras
Mamoeiros,
coqueiros, goiabeiras
Tudo
isso essa terra pode dar
E até
vinhos podemos fabricar
Sendo
grandes, no mercado latino
Já
pensou se com sede o sudestino
Vem
aqui pro nordeste saciar!.
Igualmente
a o povo do Sudeste
Nossa
gente é guerreira, firme e forte
Pode
haver outra igual do Sul ao Norte
Ou
quem sabe também no Centro-Oeste
Mas
pintaram o meu povo do Nordeste
E uma
lata à cabeça só com ar
A
pintura foi fácil de secar
E a
moldura é de um mundo clandestino
Já
pensou se com sede o sudestino,
Vem
aqui pro nordeste saciar!.
É que
aqueles que viram o sofrimento
Desdenharam
da gente o tempo todo
Hoje
em dia, tomando banho em lôdo,
Já
não brincam em nosso detrimento
As
TVs ainda estão, todo momento
Insistindo
em com a gente comparar
E se
o volume quiser ressuscitar
Vão
ainda insistir no desatino
Já
pensou se com sede o sudestino
Vem
aqui pro nordeste saciar!.
Estou
rezando pra seca do Sudeste
Não
durar feito a nossa vem durando
Pois
não sei se resistem, e até quando,
E se
lá ainda houver “Cabra da Peste”
Foi
alguém que saiu cá do Nordeste
Indo
lá, pra viver e trabalhar
Outra
coisa!... Se esse povo for voltar
-
Ficará pouca gente seu menino!
Já
pensou se com sede o sudestino
Vem
aqui pro nordeste saciar!.
Há de
vir uma chuva solidária
Pra
encher todo açude “catareira”
E
assim a megalópole brasileira
Sairá
da situação precária
Só
espero, que essa seca tão lendária
Molhe
as mentes, botando-as pra pensar
Lave
os olhos, fazendo-os enxegar
Quem
nos ver inferiores, está sem tino!
Já
pensou se com sede o sudestino
Vem
aqui pro nordeste saciar!.
Valter
“O Leal” 30.01.2015