I
Quando
a caboclo é valente
Não
gosta de se mostrar
Não
gosta de confusão
Muito
menos de brigar
Mas
não tem pena de choro
Nem
carrega desaforo
Se
alguém vem lhe provocar
II
Foi
assim que aconteceu
Com
compadre Pedro Oião
Ele
estava num forró
Dançando
com Conceição
Quando
chegou um sujeito
Pisou
no seu pé direito
Que
quase esmaga o dedão
III
Sentindo
uma grande dor
Ele
parou de dançar
Esperando
que o cabra
Viesse
se desculpar
Porém
ele não pediu
Desdenhou
e até sorriu
E
ficou a lhe encarar
IV
Pedro
então olhou pra ele
Com
seus olhos de carneiro
Observou
se o cabra
Estava
com algum parceiro
Manjou
a situação
E
alertou Conceição
Sobre
o sujeito encrenqueiro
V
Continuou
a dançar
Mudando
de direção
E
procurou um cantinho
Sossegado
do salão
Quando
levou um sopapo
Caiu
mole feito um trapo
Por
cima de Conceição
VI
Tentando
manter a calma
Levantou-se
devagar
Quando
viu o mesmo cara
Sorridente
a lhe encarar
Pedro
estendeu a mão
E
ajudou conceição
Pra
ela se levantar
VII
Depois
dirigiu-se ao cara
E
ficaram frente a frente
Esperou
alguns instantes
Depois
disse calmamente
E
agora por favor
Eu
espero que o senhor
Peça
desculpas pra gente
VIII
Com
o seu ar de deboche
O
sujeito lhe encarou
E
sem lhe pedir desculpas
Deu-lhe
as costas e se afastou
Pedro
pegou Conceição
Retirou-a
do salão
E
para casa a levou
IX
Depois
voltou pra o forró
Dirigiu-se
até o bar
Pediu
uma cachacinha
Quando
acabou de tomar
Circulou
pelo salão
Procurando
o valentão
E
viu que estava a dançar
X
Pedro
sempre carregava
Para
a sua proteção
Um
revólver trinta e oito
Amarrado
com um cordão
Por
debaixo do sovaco
Quando
vestia o casaco
Disfarçava
o três oitão
XI
Dependendo
da coragem
Daquele
cabra safado
Talvez
não fosse preciso
Um
tiro ser disparado
Somente
por precaução
Se
houvesse precisão
Ele
estava preparado
XII
Com
calma e sem alarde
Se
aproximou do sujeito
Quando
o cara percebeu
Largou
a dama de um jeito
Que
ela se esborrachou
A
sua blusa arriou
E
ficou mostrando um peito
XIII
Pedro
Oião disse pra o cara
Demonstre
ser cavalheiro
Ajude
sua parceira
E
vamos para o terreiro
Eu
e você frente a frente
Pra
ver quem é o valente
E
quem é o pipoqueiro
XIV
Outrora
muito arrogante
Ele
sentiu a pressão
O
riso sumiu da cara
Limpou
o suor da mão
Disfarçou
a tremedeira
E
ajudou a parceira
A
se levantar do chão
XV
A
seguir fez um sinal
Pra
um suposto parceiro
Que
estava num tamborete
Brincando
com um isqueiro
Acendendo
e apagando
E
depois saiu andando
Em
direção ao terreiro
XVI
Pedro
percebeu a trama
Mas
muito calmo fingiu
Não
esboçou reação
Até
que o cara saiu
Olhou
enquanto fingia
Se
mais alguém o seguia
Porém
ninguém o seguiu
XVII
Sem
esperar pelo outro
Pedro
deixou o salão
Encontrando
o tal sujeito
Escondido
no oitão
Com
a arma engatilhada
Apontou
pra o camarada
E
disse – Preste atenção
XVIII
Está
cheinho de bala
E
eu não costumo errar
Só
vou falar uma vez
E
trate de me escutar
Eu
não quero mais lhe ver
Então
comece a correr
Só
pare quando eu mandar
XIX
O
cabra nem esperou
Pedro
acabar de falar
Estava
tão assustado
Que
só faltou se cagar
Desembestou
na carreira
Que
só se via a poeira
Se
espalhando no ar
XX
O
outro quando saiu
E
não viu o seu amigo
Deu
uns dois passos pra trás
Como
quem sente um perigo
Então
surgiu Pedro Oião
E
disse pra o valentão
O
seu negócio é comigo
XXI
Pedro
já se aproximou
Com
o revolver na mão
Enfiou
na boca dele
E
acionou o cão
O
cabra foi se tremendo
O
mijo foi escorrendo
Deixando
a poça no chão
XXII
Pedro
então falou bem calmo
Não
sou homem de brigar
Mas
não levo desaforo
De
quem vem me provocar
Se
tu gostas de viver
Então
começa a correr
Senão
eu vou atirar
XXIII
Nem
precisou repetir
O
cabra desembestou
Os
pés batiam na bunda
E
Pedro Oião atirou
Deu
um tiro para o alto
O
sujeito deu um salto
E
na capoeira entrou
XXIV
Pedro
então montou na moto
E
foi buscar Conceição
Voltou
com ela pra festa
E
se esbaldou no salão
Forrozou
a noite inteira
Feliz
com sua parceira
E
sem aporrinhação
Fim