sexta-feira, 10 de junho de 2016

A festa de São João que terminou em briga - Autor: Edmilton Torres













    I
A gente lá do Sertão
No mês de junho se alegra
E todo o povo se integra
Pra festejar São João
Faz parte da tradição
E todo mundo respeita
E quando é boa a colheita
Aumenta nossa euforia
Todo ano com alegria
Eu sigo a mesma receita

    II
Mandei limpar o terreiro
Construí uma palhoça
Fui buscar milho na roça
Contratei um sanfoneiro
E mandei um mensageiro
Espalhar na região
Que toda a população
Estaria convidada
Pra uma festa arretada
Na noite de São João

    III
Preparei uma fogueira
Comprei roqueira e rojão
Fiz um tonel de quentão
Cerveja na geladeira
Cachaça na prateleira
Tira-gosto pra danar
Não quis economizar
Para não passar vergonha
Canjica, milho e pamonha
Tinha pra empanzinar


    IV
Assim que escureceu
Eu acendi a fogueira
Botei pra dentro a primeira
Chega a língua adormeceu
A segunda já desceu
Como água mineral
Foi chegando o pessoal
Na maior animação
Eu gritei: - Viva São João!
E fomos pra o arraial

    V
Então Pedro Sanfoneiro
Pegou seu acordeom
Quando o povo ouviu o som
Acabou o converseiro
Cada dama e cavalheiro
Já foi formando seu par
E começaram a dançar
Sem preconceito nem luxo
Foi o maior rela buxo
Que já se viu no lugar

    VI
Alguns estavam dançando
Outros tomando cachaça
Todo mundo achando graça
Se divertindo e cantando
Alguns casais namorando
Fazendo adivinhação
E no terreiro o clarão
Da fogueira crepitando
E o sanfoneiro tocando
Forró, xaxado e baião


    VII
A festa tava animada
Na mesa muita comida
No balcão muita bebida
E a palhoça lotada
A cabroeira suada
E a poeira subindo
Já tinha dama tossindo
Com o cheiro da sovaqueira
E a fumaça da fogueira
Pelas narinas subindo

    VIII
Entrou pela madrugada
Ninguém arredava pé
Já tinha bebum de ré
Tombando pela estrada
Foi aí meu camarada
Que o cenário mudou
Um sujeito se engraçou
Da noiva de Zé Cruela
Queria dançar com ela
Mas a moça recusou

    IX
A moça muito polida
Pediu pra lhe perdoar
Mas não podia dançar
Pois era comprometida
Já tava até de saída
Esperando o companheiro
Que tinha ido ao banheiro.
Sorriu com educação
Fez um aceno de mão
E saiu para o terreiro

    X
O cabra não aceitou
A recusa da donzela
Foi assediando ela
E no seu braço agarrou
A moça se afastou
Mas ele não desistiu
Quando Zé Cruela viu
Que a sua namorada
Tava sendo importunada
Pra cima dele partiu

    XI
Zé Cruela acostumado
A derrubar touro brabo
Pelo chifre ou pelo rabo
Não foi muito delicado
Nem deu tempo ao assanhado
Esboçar uma reação
Quando viu tava no chão
Com Zé Cruela montado
Um olho roxo e inchado
Cheio de escoriação

    XII
O tal do arruaceiro
Que ninguém sabe quem era
Tava com uma galera
Que se ajuntou ligeiro
E partiu como um vespeiro
Pra cima de Zé Cruela
Ele tentou fugir dela
Mas logo foi alcançado
E foi imobilizado
Com uma gravata na goela

    XIII
Amigos de Zé Cruela
Também estavam na festa
Foi um rolo da molesta
Nunca vi briga daquela
O sangue deu na canela
Teve gente que brigou
E até quem apanhou
Sem saber qual o motivo
No final quem saiu vivo
Até que comemorou

    XIV
Eu não podia apartar
Com tanta gente brigando
O cacete foi rolando
Até a justa chegar
A Polícia Militar
De cassetete na mão
Acabou a confusão
Distribuindo porrada
Foi a maior debandada
Não ficou um valentão

    XV
Minha festa de São João
Findou na delegacia
Quando amanheceu o dia
Eu vi a devastação
Minha palhoça no chão
A sanfona arrebentada
Muita garrafa quebrada
Roupa, chapéu e sapato
Espalhados pelo mato
E a comida espalhada

    XVI   
A anfitriã da festa
Rosinha minha patroa
É quem mais amaldiçoa
Tá virada na molesta
Com um galo no meio da testa
Pois ao fugir do cacete
Escorregou num tapete
Que tava no meio da sala
A coitada abriu escala
Com a testa num tamborete

    XVII
Findei o dia quebrado
Só limpando a bagaceira
Tinha brasa da fogueira
Em cima até do telhado
Depois de tudo arrumado
Tomado de frustração
Tomei uma decisão
Que não mudo até morrer
Nunca mais eu vou fazer
Uma festa de São João








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