“Fazendo
a barba com a torneira aberta, hein?”. Hoje, decorridas mais de três décadas,
ainda me lembro dessa advertência exibida na televisão em que um ator de voz
grave, dono de um volumoso bigode branco, flagrava um jovem se barbeando no
banheiro, sem se dar conta do desperdício de água causado pelo seu ato.
Um
pouco antes, em janeiro de 1967, fui a Recife a fim de tirar a minha carteira
de identidade e vi em um restaurante localizado perto das Lojas Viana Leal, um
funcionário controlando o fluxo da torneira enquanto os clientes lavavam as
mãos.
Tudo
isto, por causa da impiedosa seca que castigava a Região Nordeste. Com tristeza
e ao mesmo tempo, revolta, sou forçado a dizer que daquela época até os dias
atuais, quase nada mudou.
O
desequilíbrio ecológico causado pelo crescimento das cidades há muito vem
mostrando que o Homem não ficará impune pelos crimes praticados contra a
Natureza.
Só
os governantes fingiram ignorar esse desastre amplamente anunciado. As secas
sempre ocorreram, mas agora as consequências são maiores, porque aumentaram as
áreas e o número de pessoas atingidas.
Para
os políticos, a saída mais cômoda é colocar a culpa nos longos períodos de
estiagem. Mas por que não fizeram a parte deles?
No
caso de São Paulo, por exemplo, no início deste mês, um cidadão bem informado
disse ao um repórter de renomado telejornal que a SABESP tempos atrás, deixou
de investir em projeto mais promissor para a capital paulista e preferiu
apostar no já exausto sistema Cantareira, por sair um pouco mais barato. Os
resultados estão aí.
Dando
um “pulinho” da maior metrópole brasileira para a nossa Pesqueira, encontramos
situação semelhante em se tratando de descaso governamental.
A
construção da Barragem de Pão de Açúcar no início da década de 1980, quando o
governador era o Dr. Roberto Magalhães, constava de um projeto que previa
outras barragens ao longo do Rio Ipojuca. Mas a ideia não saiu do papel, porque
os governadores que o sucederam não quiseram e os pesqueirenses e habitantes
dos outros municípios que seriam beneficiados pela obra, tão omissos e acomodados
quanto nós, simplesmente não exigiram.
Os
belo-jardinenses, sempre na vanguarda, quando os interesses de seu município
estão em jogo, lutaram e conseguiram uma barragem no leito do Ipojuca.
Diante dessa
situação de penúria que passamos por não termos água nas torneiras devido à
falta de ação dos políticos, perguntamos: Onde estavam as nossas lideranças que
assistiram passivamente essa maneira absurda utilizada para abastecer o nosso
município? Já faz quase trinta anos que a água de pão de açúcar desce rio
abaixo, percorre dezoito quilômetros até o sítio Caianinha e de lá é bombeada para
a nossa estação de tratamento, operação que seria simplificada com a instalação
de uma adutora.
O pior é que
nesse percurso, além dos desvios, ocorrem também a evaporação e a contaminação
por tudo quanto é nocivo ao ser humano. Sem falar no desperdício!
É nessas
ocasiões que lembramos e sentimos muita falta do cidadão Othon Almeida, zeloso
funcionário do IBGE e acima de tudo um pesqueirista de primeira.
E você aí,
rapaz, continua lavando sua moto, seu carrão e o seu terraço usando a mangueira
do jardim? Quanta falta de solidariedade meu caro pense também nos outros.
Pesqueira,
19 de março de 2014.