domingo, 23 de março de 2014

O CINZA - Jacqueline Torres


A cor cinza é sempre das estradas
dos céus chuvosos
Do aceno de adeus
Da pausa em meio à frase
A cor cinza é sempre da caatinga
É sempre deste meu peito
Não importa o meu riso −
A decoração da sala íntima
é sempre da mesma cor
Os fios elétricos
os postes tísicos
A cor cinza é sempre minha lágrima
Meu suspiro de areia, cinza
...Da velha fuligem
em torno do velho fogão de lenha
que me persegue,
que me queima a memória exausta
e solitária!
A cor cinza sopra o capim
E troveja órfãos trovões
pelas serras cinzas de pano
O vento é cinza,
minhas saudades, o poço
a fumaça distante,
a pausa,
o porto e o ponto.


Texto publicado no livro da autora “Cosendo Palavras Soltas”

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