quinta-feira, 20 de março de 2014

MAS RAPAZ! - Walter Jorge de Freitas



                                                              
                                                                                                                                                 
                “Fazendo a barba com a torneira aberta, hein?”. Hoje, decorridas mais de três décadas, ainda me lembro dessa advertência exibida na televisão em que um ator de voz grave, dono de um volumoso bigode branco, flagrava um jovem se barbeando no banheiro, sem se dar conta do desperdício de água causado pelo seu ato.
            Um pouco antes, em janeiro de 1967, fui a Recife a fim de tirar a minha carteira de identidade e vi em um restaurante localizado perto das Lojas Viana Leal, um funcionário controlando o fluxo da torneira enquanto os clientes lavavam as mãos.
            Tudo isto, por causa da impiedosa seca que castigava a Região Nordeste. Com tristeza e ao mesmo tempo, revolta, sou forçado a dizer que daquela época até os dias atuais, quase nada mudou.
            O desequilíbrio ecológico causado pelo crescimento das cidades há muito vem mostrando que o Homem não ficará impune pelos crimes praticados contra a Natureza.
            Só os governantes fingiram ignorar esse desastre amplamente anunciado. As secas sempre ocorreram, mas agora as consequências são maiores, porque aumentaram as áreas e o número de pessoas atingidas.
            Para os políticos, a saída mais cômoda é colocar a culpa nos longos períodos de estiagem. Mas por que não fizeram a parte deles?
            No caso de São Paulo, por exemplo, no início deste mês, um cidadão bem informado disse ao um repórter de renomado telejornal que a SABESP tempos atrás, deixou de investir em projeto mais promissor para a capital paulista e preferiu apostar no já exausto sistema Cantareira, por sair um pouco mais barato. Os resultados estão aí.
            Dando um “pulinho” da maior metrópole brasileira para a nossa Pesqueira, encontramos situação semelhante em se tratando de descaso governamental.
            A construção da Barragem de Pão de Açúcar no início da década de 1980, quando o governador era o Dr. Roberto Magalhães, constava de um projeto que previa outras barragens ao longo do Rio Ipojuca. Mas a ideia não saiu do papel, porque os governadores que o sucederam não quiseram e os pesqueirenses e habitantes dos outros municípios que seriam beneficiados pela obra, tão omissos e acomodados quanto nós, simplesmente não exigiram.
Os belo-jardinenses, sempre na vanguarda, quando os interesses de seu município estão em jogo, lutaram e conseguiram uma barragem no leito do Ipojuca.
Diante dessa situação de penúria que passamos por não termos água nas torneiras devido à falta de ação dos políticos, perguntamos: Onde estavam as nossas lideranças que assistiram passivamente essa maneira absurda utilizada para abastecer o nosso município? Já faz quase trinta anos que a água de pão de açúcar desce rio abaixo, percorre dezoito quilômetros até o sítio Caianinha e de lá é bombeada para a nossa estação de tratamento, operação que seria simplificada com a instalação de uma adutora.  
O pior é que nesse percurso, além dos desvios, ocorrem também a evaporação e a contaminação por tudo quanto é nocivo ao ser humano. Sem falar no desperdício!
É nessas ocasiões que lembramos e sentimos muita falta do cidadão Othon Almeida, zeloso funcionário do IBGE e acima de tudo um pesqueirista de primeira.
E você aí, rapaz, continua lavando sua moto, seu carrão e o seu terraço usando a mangueira do jardim? Quanta falta de solidariedade meu caro pense também nos outros.


                                               Pesqueira, 19 de março de 2014.
             
              

Nenhum comentário:

Postar um comentário