Os
humanos não sabem quanta vida
Ainda
têm pra viver por sobre a terra
Por
dinheiro essa gente só se enterra
E
por ele degrada sem medida
Quanto
mais se aproxima a despedida
Desse
líquido vital que ainda temos
Muito
menos sua falta percebemos
Cada
dia é mais feio e mais sombrio
Lamentamos
a morte de um rio
Pois
assim sem ter água morreremos
Sete
anos de seca se passaram
Nós
ficamos qual vítimas de guerra
Veio
o fogo queimando o pé de serra
E
as nascentes da terra já secaram
Os
matutos mais fracos desertaram
E
amanhã não sei onde chegaremos
Quase
todo possível já fizemos
Mas
o veio da terra está vazio
Lamentamos
a morte de um rio
Pois
assim sem ter água morreremos.
Vejo
o gado morrendo a todo instante
Rodeando
o barreiro que secou
O
vaqueiro também já se mudou
Por
não ter nem um pingo na vazante
Seu
aboio é lamento emocionante
Pra
marcar tudo aquilo que vivemos
Quando
a rês está sem força é que entendemos
Quanto
o mundo sem água é arredio
Lamentamos
a morte de um rio
Pois
assim sem ter água morreremos.
Todo
ser sertanejo que é alado
Não
guentando também foge de casa
Leva
a dor e a saudade em cada asa
Pra
não ser pela fome arrebatado.
No
lugar e no tempo atribulado
Nós
ficamos porém não entendemos
Que
num longo verão não ouviremos
Um
gorjeio, um trinado e nem um pio
Lamentamos
a morte de um rio
Pois
assim sem ter água morreremos.
As
nascentes secaram por completo
Toda
lama do açude esturricou
Sob
a lama, uma ova não restou
Mas
de espinha este chão está repleto
Urubu
tem seu prato predileto
Com
o banquete daquilo que perdemos
Toda
sorte de peixes que tivemos
Hoje
engorda seu corpo feio e esguio
Lamentamos
a morte de um rio
Pois
assim sem ter água morreremos.
Apartada
da mão do agricultor
Uma
enxada não tem mais serventia
A
cisterna da casa está vazia
E
uma lata sem água causa horror
Na
cozinha há um ar desolador
Sobre
o pote que ainda não enchemos
Nós
rezamos porém não compreendemos
De
que forma vencer o desafio
Lamentamos
a morte de um rio
Pois
assim sem ter água morreremos.
Valter
“O Leal” 11.11.2016