Seu
Lunga desencarnou
E até
por ser bravo e bruto
Sua
fama se espalhou
Pois
sendo audaz e astuto
Já
cumpriu sua missão
Do
Litoral ao Sertão
É
sucesso absoluto.
Joaquim
Santos Rodrigues
Morador
do Juazeiro
Nasceu
em Caririaçu
Foi
poeta brasileiro
E
morreu lá em Barbalha
Deixando
assim sua tralha
Já
que era sucateiro.
Era
um homem muito sério
Sem
gostar de brincadeira
Com
resposta dura e seca
Se
perguntassem besteira
Por
isso ficou famoso
Só
por ser bruto e teimoso
Fez
uma fama sem fronteira.
Sei
que é quase impossível
Morrer
e ressuscitar
Mas,
prestem atenção, agora
Na
estória que vou contar
Quem
conta é um compadre meu
Que
em vinte e dois morreu
Mas
teve sorte em voltar.
Disse
que chegando lá
Bem
na porta do além
Conheceu
um cabra macho
Que
estava por lá também
Recebidos
por São Pedro
Meu
compadre viu segredo
Que
não revela a ninguém.
Mas
outros, ele contou
E
assim vou descrever
O que
seu Lunga aprontou
Mesmo
depois de morrer
Pois,
se vivo, era sisudo
Morto,
ficou mais marrudo
E
prontinho para morder.
Nesse,
dois mil e quatorze
Em
vinte e dois de novembro
Bastante
gente morreu
Sem
esperar por dezembro
E vão
passar o Natal
Num
lugar fenomenal
Mas
que eu não quero ser membro.
Na
fila e sem paciência
Seu
Lunga quis se enfezar
Quando
um cabra perguntou
Querendo
lhe chatear
Se
ele havia morrido
Ele
disse um não, contido
- Vim
aqui pra passear!.
Outro
perguntou: - De quê
Foi
mesmo que “ocê” morreu?
Ele
foi franzindo a testa
O
cabra já percebeu
Que a
resposta estava armada
E ele
disse: - Camarada!
Tu
vem perguntar a eu?
-
Pergunte lá pra São Pedro
E
aproveite pra saber
Quando
é que tú vai pro inferno
Ele
deve lhe dizer!
Homi,
cale essa matraca
E vá
curar essa inhaca
Que
não pára de feder!.
Um
gaiato estava perto
Vestido
só com uma sunga
E ai
pra tirar onda
Foi
perguntar a Seu Lunga
O
porquê do apelido
Se
era algo enrustido
Ou
tinha a ver com calunga.
Seu
Lunga deu uma popa
Ficou
zangado demais
Disse:
filho duma puta!
E sem
discursos formais...
Usou
bons adjetivos
Pra
explicar os motivos
Das
palavras radicais.
Um
cabra reconheceu
Seu
Lunga naquela fila
Quis
tirar a sua graça
Com
um par de olhão de bila
Disse:
Seu Lunga! morreu!
E seu
Lunga respondeu
De
forma pouco tranquila.
-
Não, vim aqui com a tua mãe
Pra
fazer DNA
Saber
se tú és meu filho
Pra
lhe mandar se lascar
Vá
buscar o que fazer
Senão,
eu vou lhe dizer
Onde
é que tú vai morar.
-
Morri não cabra safado!
Só
vim ver a tua véia
Quando
vi ela passando
Eu
tive logo essa idéia
Pois
tú sabe como é
Com
ela no cabaré
Fui
eu quem fez a estréia!.
Um
conhecido de Lunga
Daqueles
gordos, maciço
Se
aproximou do amigo
E no
meio do rebuliço
Perguntou:
- Que tais fazendo?
E ele
foi respondendo
Vim
visitar Pade Ciço.
E o
cabra abestalhado
Perguntou:
- Foi mermo, foi?
Lunga
ficou arretado
Quase
dá-lhe um “tapa oi”
Ai só
deu um esturro
Que
até pareceu um muro
Igual
o coice de um boi.
Uma
mocinha também
Acho,
que pra se mostrar
Perguntou
para Seu Lunga
Se a
fila ia demorar
Claro,
o bordão foi dos seus!
-
Você acha que eu sou Deus
Pra
poder advinhar.
Querendo
se sair bem
Com a
frase que recebeu
Disse:
o senhor tá mais bruto
Agora
que já morreu
Vá
pra fila do idoso
Lá o
porteiro é generoso
Se o
senhor não percebeu.
- E
finado tem idade?
Eu
mesmo não estou cansado!
Tô
com raiva das preguntas
Que
vocês têm perguntado
Vá
você pra outra fila!
Vai
vê você assimila
Que
eu não estou apressado.
Mas,
chegando a sua vez
Com
respeito, mas sem medo
Lunga
usou de paciência
Só
pra tratar com São Pedro!
Pela
religiosidade
Não
lhe disse atrocidade
Mas
cochichou-lhe um segredo!.
São
Pedro no atendimento
Naquele
grande sufoco
Perguntou:
- Do que morreu?
Ele
respirou um pouco
Contou
de um até cem
Fingiu
não ouvir ninguém
Preferiu
passar por moco.
Valter
“O Leal” 28.11.2014