quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A CHEGADA DE SEU LUNGA NO ALÉM - Valter Leal


Seu Lunga desencarnou
E até por ser bravo e bruto
Sua fama se espalhou
Pois sendo audaz e astuto
Já cumpriu sua missão
Do Litoral ao Sertão
É sucesso absoluto.

Joaquim Santos Rodrigues
Morador do Juazeiro
Nasceu em Caririaçu
Foi poeta brasileiro
E morreu lá em Barbalha
Deixando assim sua tralha
Já que era sucateiro.

Era um homem muito sério
Sem gostar de brincadeira
Com resposta dura e seca
Se perguntassem besteira
Por isso ficou famoso
Só por ser bruto e teimoso
Fez uma fama sem fronteira.

Sei que é quase impossível
Morrer e ressuscitar
Mas, prestem atenção, agora
Na estória que vou contar
Quem conta é um compadre meu
Que em vinte e dois morreu
Mas teve sorte em voltar.

Disse que chegando lá
Bem na porta do além
Conheceu um cabra macho
Que estava por lá também
Recebidos por São Pedro
Meu compadre viu segredo
Que não revela a ninguém.

Mas outros, ele contou
E assim vou descrever
O que seu Lunga aprontou
Mesmo depois de morrer
Pois, se vivo, era sisudo
Morto, ficou mais marrudo
E prontinho para morder.

Nesse, dois mil e quatorze
Em vinte e dois de novembro
Bastante gente morreu
Sem esperar por dezembro
E vão passar o Natal
Num lugar fenomenal
Mas que eu não quero ser membro.

Na fila e sem paciência
Seu Lunga quis se enfezar
Quando um cabra perguntou
Querendo lhe chatear
Se ele havia morrido
Ele disse um não, contido
- Vim aqui pra passear!.

Outro perguntou: - De quê
Foi mesmo que “ocê” morreu?
Ele foi franzindo a testa
O cabra já percebeu
Que a resposta estava armada
E ele disse: - Camarada!
Tu vem perguntar a eu?

- Pergunte lá pra São Pedro
E aproveite pra saber
Quando é que tú vai pro inferno
Ele deve lhe dizer!
Homi, cale essa matraca
E vá curar essa inhaca
Que não pára de feder!.

Um gaiato estava perto
Vestido só com uma sunga
E ai pra tirar onda
Foi perguntar a Seu Lunga
O porquê do apelido
Se era algo enrustido
Ou tinha a ver com calunga.

Seu Lunga deu uma popa
Ficou zangado demais
Disse: filho duma puta!
E sem discursos formais...
Usou bons adjetivos
Pra explicar os motivos
Das palavras radicais.

Um cabra reconheceu
Seu Lunga naquela fila
Quis tirar a sua graça
Com um par de olhão de bila
Disse: Seu Lunga! morreu!
E seu Lunga respondeu
De forma pouco tranquila.

- Não, vim aqui com a tua mãe
Pra fazer DNA
Saber se tú és meu filho
Pra lhe mandar se lascar
Vá buscar o que fazer
Senão, eu vou lhe dizer
Onde é que tú vai morar.

- Morri não cabra safado!
Só vim ver a tua véia
Quando vi ela passando
Eu tive logo essa idéia
Pois tú sabe como é
Com ela no cabaré
Fui eu quem fez a estréia!.
Um conhecido de Lunga
Daqueles gordos, maciço
Se aproximou do amigo
E no meio do rebuliço
Perguntou: - Que tais fazendo?
E ele foi respondendo
Vim visitar Pade Ciço.

E o cabra abestalhado
Perguntou: - Foi mermo, foi?
Lunga ficou arretado
Quase dá-lhe um “tapa oi”
Ai só deu um esturro
Que até pareceu um muro
Igual o coice de um boi.

Uma mocinha também
Acho, que pra se mostrar
Perguntou para Seu Lunga
Se a fila ia demorar
Claro, o bordão foi dos seus!
- Você acha que eu sou Deus
Pra poder advinhar.

Querendo se sair bem
Com a frase que recebeu
Disse: o senhor tá mais bruto
Agora que já morreu
Vá pra fila do idoso
Lá o porteiro é generoso
Se o senhor não percebeu.

- E finado tem idade?
Eu mesmo não estou cansado!
Tô com raiva das preguntas
Que vocês têm perguntado
Vá você pra outra fila!
Vai vê você assimila
Que eu não estou apressado.

Mas, chegando a sua vez
Com respeito, mas sem medo
Lunga usou de paciência
Só pra tratar com São Pedro!
Pela religiosidade
Não lhe disse atrocidade
Mas cochichou-lhe um segredo!.

São Pedro no atendimento
Naquele grande sufoco
Perguntou: - Do que morreu?
Ele respirou um pouco
Contou de um até cem
Fingiu não ouvir ninguém
Preferiu passar por moco.


Valter “O Leal” 28.11.2014


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