domingo, 4 de maio de 2014

ATAULFO, O ELEGANTE - Walter Jorge de Freitas



                Ataulfo Alves - um dos maiores gênios da MPB - nasceu no município de Mirai (MG), em 02 de maio de 1909. Ser filho de um violeiro, com certeza, teve influência para que ele se dedicasse à vida artística. Aos oito anos, já fazia uns versinhos.
            Perdeu o pai quando tinha apenas nove anos de idade e por ser o mais velho dos filhos, enfrentou o trabalho, ainda novinho, a fim de ajudar na manutenção da família.
            Mudou-se para o Rio de Janeiro, levado pelo médico Afrânio Moreira, amigo da família, que lhe deu emprego em sua casa. Mais tarde, trabalhando numa farmácia, conheceu Carmem Miranda, que em pouco tempo viria a ser a grande cantora de fama internacional.
            Ataulfo tinha por hábito, ao sair do trabalho, dar uma passadinha nos locais onde havia rodas de samba. Conheceu muita gente famosa, mas nunca procurou seguir ninguém.
            Como bom mineiro que era, soube ajustar o jeito carioca de fazer samba à sua mineirice e deu uma cadência mais lenta às músicas que ia compondo, enriquecendo-as com letras e melodias românticas e cheias de talento.
            Alcebíades Nogueira (Bide), sambista bastante influente na época, foi quem o encaminhou no ano de 1934 aos estúdios da RCA Victor, cujo diretor artístico, Mr. Evans, depois de ouvi-lo cantar algumas de suas músicas, mandou chamar Carmem Miranda para escutar o novo sambista. O próprio Ataulfo narra que Carmem demonstrou surpresa quando descobriu  que se tratava daquele balconista da farmácia.
            Embora a sua carreira tenha se iniciado de forma parecida com a de outros sambistas, ele foi diferente dos demais. Simplesmente inovou.
            Deduz-se que, para compensar suas limitações vocais, ele passou a cantar acompanhado de quatro vozes femininas. Lembro-me muito bem do locutor Cezar de Alencar anunciando no seu programa dos sábados: “Com vocês, Ataulfo Alves e suas Pastoras”.
            Era bastante comedido nos seus atos, na maneira de conviver com os amigos, na forma de vestir e até no estilo de elaborar suas composições. Este comportamento levou alguns cronistas especializados a incluí-lo entre os homens mais elegantes do país.
            Foi muito seletivo e feliz em suas parcerias. Mário Lago, Bide, Wilson Batista, Zé da Zilda, Aldo Cabral, Carlos Imperial e Claudionor Cruz, são os mais conhecidos. O sucesso e a fama nunca mudaram o seu jeito de ser – sem estrelismo - pautado na simplicidade que trouxe do berço e o acompanhou por toda a vida.
            Marcou presença nas paradas de sucessos com os sambas Ai, Que Saudades da Amélia, Atire a Primeira Pedra, Pois É, Leva Meu Samba, Você Passa e Eu Acho Graça, Solitário, Meus Tempos de Criança. A valsa A Você (dele e Aldo Cabral) gravada por Carlos Galhardo e outros cantores do gênero, também lhe rendeu muito prestígio.      
              Ao submeter-se a uma cirurgia de úlcera, que segundo o seu médico, seria um procedimento simples, o renomado sambista teve complicações e faleceu no dia 20 de abril de 1969, deixando uma enorme lacuna no nosso cancioneiro popular.
            Um de seus filhos – Ataulfo Júnior – seguiu a carreira do pai e vem mantendo a mesma linha, cantando os sambas românticos e de andamento lento, criados por ele e seus parceiros e imortalizados na sua voz e de outros intérpretes. Ainda bem!


                                               Pesqueira, 1º de maio de 2012.  


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