“A praça, a praça é do povo!
Como o céu é do Condor!...”. (Castro Alves)1
De
quem é a praça?
Não!
Essa praça não é do povo!
Essa
praça é do “sem-teto”
Que
dorme ao relento
E
acorda com o sol a queimar-lhe o rosto.
Essa
praça é do Bem-te-vi
Na
fonte sem água.
Essa
praça é da estátua carcomida pelo tempo
Que
já não tem identidade.
Essa
praça é dos pombos
Que
com seus dejetos
Emporcalham
o anônimo da estátua.
Essa
praça é da gramínea ressequida
Que
insiste em não morrer
À
espera da próxima chuva.
Essa
praça...
Talvez
tenha sido do ambulante,
Que
sem ter com quem negociar,
Por
ela já não perambula mais.
Talvez
tenha sido do transeunte,
Que
já não descansa nos seus bancos rachados
E
que passa ao largo
Sem
sequer dirigir-lhe um olhar
Talvez
seja da árvore solitária
Que
desperdiça a sua sombra
Numa
espera inútil
Por
alguém que a desfrute
Ou
de um gari da prefeitura
Que
recolha as suas folhas
-
Lágrimas (secas) derramadas no último outono.
Essa
praça é do abandono... do descaso.
Não!
Essa praça não é do povo!
1- Castro Alves referiu-se à praça como um
espaço de manifestação das liberdades democráticas, aqui se dá outra conotação.
Edmilton
Torres
Nenhum comentário:
Postar um comentário